Torto Arado

Torto Arado

✍por @dan_cmm
Quantos brasis existem dentro do Brasil? Eu chuto que jamais alguém será capaz de conhecer todas as nuances desse país continental. Mas o que eu sei é que ser um dos últimos países a abolir a escravidão deixou marcas em toda a sua extensão.
“Torto Arado” é de uma realidade distante demais da minha, mas a leitura te suga para dentro do livro e você chega a sentir os cheiros daquela terra, tamanha a força da descrição. A trama se passa na Fazenda Água Negra, no sertão da Bahia, no início dos anos de 1960. Se você parar a leitura por um instante, é possível ouvir as moscas passando. E, se abrir o coração, vai acabar sentindo aquelas dores como se fossem suas. O encantamento de Bibiana, a coragem de Belonísia, a fé de Zeca Chapéu Grande, o ativismo de Severo… Senti tudo isso aqui, distante, mas senti grandão, como se lá estivesse, mesmo que sentada no meu privilégio branco. E é esse o grande barato da literatura: te fazer viver na pele do outro, empatia purinha em algumas muitas páginas.
Podia recomendar simplesmente porque olhar para fora do umbigo em um país como o nosso é cada vez mais urgente. Mas recomendo porque é uma obra prima mesmo. De verdade! Tô presa nele e talvez nunca deixe de estar.
Uma curiosidade que descobri, ao final da leitura, é que o autor – Itamar Vieira Junior – é o escritor brasileiro vivo mais vendido e premiado no Brasil, hoje. Ele disputa a lista de bestsellers com sucessos comerciais, como os livros do autor americano Stephen King e a série de livros “Harry Potter”. E eu acho é pouco! “Torto Arado” devia ser leitura obrigatória nas escolas, cair todo ano no vestibular e ser distribuído em praça pública.

 

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