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A estética no estilão VHS é propositada, a câmera e a montagem desconexas são linguagens pensadas para remeter ao que se via de entretenimento importado na TV dos anos 80, escancarada na primeira cena, onde o publicitário René Saavedra (Gael Garcia Bernal) apresenta um comercial de refrigerantes. Esse ambiente serve de palco para um drama político sobre a derrocada da ditadura de Pinochet no final dos anos 80. Em meio à uma das maiores crises econômicas e sociais do pais, e pressionado pelo poder externo, o regime foi forçado a realizar um plebiscito pela continuidade ou não de Pinochet no poder. 

O plebiscito foi uma estratégia para se manter no poder, pois tinham convicção que as pessoas iriam as urnas apenas votar pelo sim (continuidade). Quem era contra, ou teria medo de votar ou não acreditava que seria possível conquistar uma vitória. Mas o governo não contava com o plano de ação da equipe publicitária da oposição (pequenos partidos de esquerda) por traz da campanha do “NÃO”. Que ousou ao utilizar temáticas felizes, e não ser bem vista pelos políticos mais tradicionais da esquerda, pois ignorava a dor, o sangue e as perdas para o regime, mas que foi fundamental para vender aos chilenos como poderia ser um Chile pós-regime, com muito mais alegria, justiça social e liberdade de escolhas. 

Para contar essa história, o diretor Pablo Larraín optou por deixar figurões políticos nas sombras para colocar a luz no personagem de Saavedra, publicitário filho de militante, mas que viveu boa parte de sua vida fora do país, e ao voltar ainda se beneficia das fracassadas políticas liberais, mas que acaba se aventurando nessa campanha política. 
O elenco é formidável, Luis Gnecco e Néstor Cantillana são ótimos. E Gael brilha, nos entregando um protagonista cheio de carisma em sua apatia geral, nos deixa em dúvida sobre suas motivações e causa ojeriza em seus ímpetos de estrelismo de publicitário Mad Men. Um autêntico anti-herói latino-americano.